Um pouco de mim

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Sou uma mulher madura, que às vezes anda de balanço. Sou uma criança insegura, que às vezes usa salto alto. Sou uma mulher que balança. Sou uma criança que atura. "Martha Medeiros"

23 de março de 2012

AMAR E NÃO SER AMADA


    

    E na lembrança me aparece aquele beijo, junto com aquele abraço apertado. Os chuviscos que caíam sobre nós, regava o início de um amor. A vergonha transpareceu ao nos olharmos, por um segundo nossa infância veio à tona, revelando toda nossa inocência. Uma despedida tímida, fez com que meu coração pulsasse mais forte, meus lábios sorrissem e minhas pernas tremessem.
    Como era possível brotar de uma brincadeira algo mais sério? E o medo me tomou por inteira. O medo de sofrer de novo. Meu coração estava livre, mas o dele estava machucado. Suas confidências fizeram com que eu me mantivesse atrás de um escudo, tentando me camuflar, fui flagrada por um lindo sorriso e um forte abraço. Suas palavras me fascinaram, meus olhos brilharam ao ver sua mão estendida, como se dissesse “vem comigo que eu te protejo do medo”. E eu fui.
    Aos poucos fui saindo do esconderijo, fui conhecendo como era amar de verdade alguém, fui sorrindo de encontro a ele. O portal da minha felicidade finalmente eu alcancei. Fiz dele o meu porto seguro, o meu repouso, o meu parceiro, o meu amigo, o meu amor.
    Com medo da dor que já havia sentido, demorei a me entregar, relutei contra a minha vontade de ter prazer. Me afastei de seus braços por várias vezes, com medo de não resistir a tentação que me seguia.
    Chegou um momento em que eu não queria mais fugir. Foi a coisa mais linda que já me aconteceu. Me senti uma rainha, fui tratada com ternura. Fui despida com suas mãos firmes, porém delicadamente. Fui entrelaçada pelos seus braços, e finalmente me entreguei ao amor por inteira. Deu vontade de chorar de tanta emoção, foi a primeira vez que me senti tão amada.
    E a cada dia que se passava, era como se nós tivéssemos o mesmo pensamento, nossa sincronia era invejável a qualquer casal. Nossas loucuras na cama, era tudo maravilhoso, como se fosse uma dança ensaiada, era perfeito. Nossas almas foram entregues por completo à luxúria.
    E nossos pensamentos eram idênticos, a gente se entendia só no olhar. Parecia até que éramos a mesma pessoa. Nossas ambições, nossos planos, nossas conquistas.
    Mas de repente, ele se modifica, se sente perdido, e me impedindo de ajudá-lo decide não me levar com ele. Aquela mão que um dia ele me estendeu, se soltou das minhas. E eu de tão chocada, paralisei, não tinha forças para tentar pegá-las novamente, minhas mãos não conseguiram mais alcançar as dele. Parei. Pirei. Chorei. Olhei ao redor e me senti perdida. Ele foi para um lado e não consegui ver exatamente para onde. Fiquei ali.
    Por duas semanas eu tentava encontrar nos sonhos alguma forma de conseguir ele de volta. No mundo da depressão eu me isolei, me afastei dos meus amigos, dos meus pais, dos meus colegas, do meu mundo. Fiquei vagando por um lugar triste e solitário. Dormir e não acordar mais. Acordar e chorar até transbordar.
Mas alguma coisa me libertou. Levantei e saí o mais rápido possível da escuridão, encontrei o caminho de volta. Me reergui e segui em frente.
    Construí um muro alto, entre meu coração e minha razão. Mas por vezes tive recaídas, olhei o que não devia, descobri o que não podia, senti o que não queria. Hoje vejo que meu muro é muito frágil, permiti que a razão e a emoção se reencontrasse. Permiti que ele voltasse a falar comigo. Mas olhem para mim, estou fraca emocionalmente ainda. Um pedido de desculpas não vai curar a minha ferida. Fui golpeada pelo amor não correspondido. A dor mais terrível que já tive. A pior sensação da minha vida. A perda de alguém vivo dói muito mais do que a perda de um ente querido que deixa esse mundo dos vivos, e vai para o mundo espiritual.
    A saudade está batendo muito forte. A tristeza está me dominando novamente. Mas dessa vez estou mais esperta e atenta, não vou deixar que ele me machuque novamente. Essa saudade que ele diz sentir, não é pelo meu amor, mas sim pelo meu corpo. E isso é tão dolorido, que me faz querer odiá-lo de novo. Não quero isso, mas sim que todos nós sejamos felizes. Cada um seguindo seu rumo.